Mar Adentro

O filme já andava em agenda desde Julho, altura em que tudo o que pudesse aumentar a tonalidade dramática era evitado. Depois disso foi adiado várias vezes porque havia sempre alguém que já o tinha visto. Houve mesmo uma noite em que, já com o dvd em mãos e preparadas para a sessão percebemos que se encontrava riscado! Ou seja, todas estas peripécias foram aumentando ainda mais as expectativas para um filme que já era, por si só, muito esperado. Bem, ontem foi a noite, em que nos decidimos finalmente a reunir vários ingredientes do Outono (já recomendados em comentários a posts passados) - um bom filme, um friozinho apetecível, mantas quentes, boa companhia e chocolates.

Senti-me transportada, levada por intensas emoções, até à essência do valor da vida, até à crueza do que é viver sem a poder alcançar as coisas mais simples, sem poder avançar para um abraço... No final, perceber que mesmo rodeado de amor, mesmo na plenitude das capacidades intelectuais e repleto de virtudes, se torna impossível continuar a viver quando a mente está repleta de coisas impossíveis de realizar. Perceber que há sonhos que, se nunca os podermos realizar, assumem a forma de amarras, que nos aprisionam, que fazem com que a vida deixe de o ser.
E quando a tudo isto se acresce uma qualidade de imagem particular e uma banda sonora emotiva, o resultado é um filme realmente tocante. Desconcertante.

À falta de fotografias (continuo a não poder usar o meu computador pessoal), deixo "apenas" um dos muitos poemas escritos por Ramón Sampedro antes de finalmente alcançar o único caminho capaz de o libertar do seu sofrimento.

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Mar adentro,
mar adentro.

Y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.

Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo,
es como penetrar al centro del universo.

El abrazo más pueril
y el más puro de los besos
hasta vernos reducidos
en un único deseo.

Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras
'más adentro', 'más adentro'
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.

Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto,
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.
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